18 de janeiro de 2008

A EXTREMA UTILIDADE DO POLITEÍSMO




Que cada indivíduo possa criar seu próprio ideal para dele inferir sua lei, seus prazeres e seus direitos, é o que foi considerado, acredito, até agora como a mais monstruosa de todas as aberrações humanas, como a idolatria por excelência;...Foi numa arte maravilhosa, na força de criar deuses – o politeísmo – que esse instinto pôde se descarregar, se purificar, se aperfeiçoar, se enobrecer, pois primitivamente esse era um instinto vulgar, mediócre, parente da teimosia, da desobediência e da inveja. Combater esse instinto de um ideal pessoal foi antigamente o mandamento de toda a moralidade.
... Foram inventados deuses, heróis, super-homens de todas as espécies, assim como quase homens e sub-homens, anões, fadas, centauros,sátiros, demônios e diabos para justificar o egoísmo e glorificar o indivíduo: a liberdade que se concedia a um deus com relação a outros deuses acabou por ser conferida a si próprio com relação às leis, aos costumes e aos vizinhos. O monoteísmo, pelo contrário, essa rígida consequência da doutrina de um homem normal – portanto, a fé num deus normal junto do qual não há senão deuses falsos – foi talvez até agora o maior perigo da humanidade...
No politeísmo se encontrava uma primeira imagem do livre pensamento e do pensamento múltiplo do homem; a força de se criar olhos novos e pessoais, olhos sempre mais novos e sempre mais pessoais, de modo que, só para o homem, entre todos os animais, não há horizontes e perspectivas eternas.
Friedrich Nietzsche

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